14.1.07

Tecnologia: A carreira de sucessos e fracassos do criador do iPod


O novo iPhone da Apple, ao que tudo indica, é a mais clara manifestação da influência que Steve Jobs exerce no mundo dos eletrônicos de consumo. Não que ele invente novas tecnologias, mas aprimora as que já existem.

O próprio Jobs admitiu isso em entrevista na terça-feira (11) quando perguntado se achava que o iPhone representa uma tendência de convergência entre computação e comunicações. "Não quero que as pessoas pensem nele como um computador", afirmou. "Penso nele como uma reinvenção do telefone".

Se o iPhone tiver sucesso comercial, será mais uma prova do poder e influência de Jobs no mercado mundial de consumo. O fato é que às vezes ele parece conseguir desafiar a gravidade.

Trajetória
No entanto, embora suas idéias de projetos em geral revelem-se sucessos indiscutíveis, já houve também significativos fracassos.

O computador Next, desenvolvido na década de 1980 durante sua saída da Apple e, em princípio, voltado para o público acadêmico, jamais conseguiu se expandir para fora de um pequeno nicho. (Apesar de ter sido um fracasso comercial, o Next foi usado por Tim Berners-Lee como apoio para desenvolver o conceito original da World Wide Web). Outro caso semelhante é o do Macintosh G4 Cube, lançado em 2000, sem êxito no mercado apesar de ser visto como uma inovação artística em termos de design industrial de computadores.

De fato, quando o computador Macintosh – que também foi desenvolvido por um pequeno grupo em total sigilo – foi lançado em janeiro de 1984, recebeu o mesmo tipo de empolgação exagerada e frenética que saudou o iPhone nesta semana. Mas um ano depois, as falhas na primeira geração do Macintosh custaram a Jobs seu emprego na empresa que havia fundado com o amigo de escola, Stephen Wozniak, nove anos antes.

Considerando o design no estilo utilitário fechado do iPhone, vale relembrar o início da história do Mac tendo em vista as possíveis armadilhas semelhantes que Jobs e sua empresa podem vir a enfrentar.

Apesar do alto preço de US$ 2.495, o Macintosh no início vendeu fácil. Mas as previsões iniciais de Jobs de que as vendas seriam gigantes não se concretizaram. (Na terça-feira, de maneira parecida, ele definiu uma meta para o iPhone de 1% do mercado mundial de telefones celulares para o final de 2008).

Deslizes
O deslize do Mac ocorreu em parte por causa do preço e em parte porque Jobs intencionalmente limitou a capacidade de expansão do produto. Apesar de sua declaração de que uma conexão de dados lenta seria suficiente, a aposta fracassou quando a Apple teve dificuldades financeiras e Jobs foi obrigado a sair da empresa pelo diretor executivo que ele mesmo havia contratado, John Sculley.

Agora, da mesma forma, Jobs aposta que as pessoas pagarão um valor mais alto (US$ 499 ou US$ 599) pelo iPhone e parece ter planos de limitar a capacidade de expansão do produto.

O aparelho, por enquanto, não é compatível com as redes de dados mais velozes sem fio 3G que estão conduzindo as receitas de celulares a lucros expressivos nos Estados Unidos (embora várias pessoas de dentro da Apple tenham dito que o telefone poderia ter um upgrade para 3G por meio de software se mais tarde a Apple decidir ativar esse recurso).

Além disso, parece que Jobs também está restringindo as chances de desenvolvedores de softwares de terceiros inserirem aplicativos no novo handset, como no caso de ring tones e processadores de texto.

Funções limitadas
Sem dúvida essa estratégia não impediu o sucesso do iPod, que se tornou o aparelho portátil de consumo definitivo e referência nos últimos cinco anos. Mas o mundo de telefones celulares digitais está rapidamente se tornando uma simples extensão do mundo da computadores pessoal. Os fabricantes de aparelhos handheld líderes de mercado – Microsoft, Motorola, Nokia, Palm, Research in Motion, Samsung e Sony Ericsson – estão todos dedicados a tornar seus aparelhos cada vez mais parecidos com PCs de carregar no bolso.

Jobs também está partindo para essa tendência, mas dá sinais de querer controlar seu produto muito mais de perto do que os concorrentes. "Nós definimos tudo que está no telefone", afirmou. "Ninguém quer que o telefone seja igual a um PC. As pessoas não querem ser impedidas de fazer ligações por causa de outros três aplicativos cheios de informações. Os telefones são mais parecidos com iPods do que com computadores".

O modelo do iPhone, como ele insistiu, não tem a mesma aparência de outros aparelhos da indústria sem fio.

"Esses são aparelhos que precisam funcionar, o que fica impossível se você carregá-los com qualquer software", declarou. "Isso não significa que não haverá softwares fornecidos por nós disponíveis para compra, os quais poderão ser carregados no aparelho. Não significa que tenhamos de comandar tudo que entra, mas sim que deve haver um ambiente mais controlado".

Cautela
Os desenvolvedores de software na Macworld Expo, feira onde Jobs anunciou o lançamento do iPhone, disseram estar cautelosos em relação ao novo telefone. Muitos deles disseram que grande parte da utilidade do telefone dependeria de quais funções adicionais a Apple decidirá incluir na versão do navegador Safari Web, que faz parte do sistema.

Se houver um Adobe Flash player disponível para o iPhone, e ele suportar os padrões de internet que são vastamente usados pelos desenvolvedores de um conjunto cada vez maior de serviços web, a decisão da Apple em restringir o desenvolvimento do software pode não ter importância.

Parece de fato que Jobs já conquistou adeptos entre muitos analistas do setor e pesquisadores independentes.

"Ele está competindo como sempre competiu – como um fabricante de aparelhos de consumo integrados que deixa as outras pessoas lidarem com o restante das coisas", declarou Michael J. Kleeman, ex-executivo do setor de telecomunicações, atual pesquisador da University of California, em San Diego. "Ele consegue potencializar os investimentos em capital das outras pessoas".

Restam ainda algumas perguntas intrigantes sobre o design do sistema e, segundo analistas, o verdadeiro design do aparelho só será totalmente entendido quando o iPhone estiver nas mãos dos usuários em junho.

É um telefone, um PC ou algo completamente novo? Por exemplo, apesar de o telefone ter embutido o recurso wi-fi digital de alta velocidade, Jobs manteve o mistério sobre como esse recurso seria usado.

Operadora exclusiva
Durante uma entrevista na terça-feira, ele afirmou que a Apple não havia decidido se ativaria um serviço voice-over de internet como o do Skype – uma questão que pode gerar divisão de opiniões na Cingular, operadora exclusiva do iPhone, porque é algo que poderia se efetivar às custas de receita obtida com celular.

Além disso, não se sabe ao certo até que ponto Jobs irá quanto a deixar o aparelho começar a substituir o PC e o Macintosh para usuários que não precisam sentar à mesa de trabalho ou carregar um computador pessoal.

É possível que o presidente da Apple tenha encontrado uma forma de preencher a lacuna entre os dois mundos, com a lucratividade para preenchê-la. "A Apple está numa posição única de desenvolver um aparelho pessoal líder de mercado que realmente cumpra a promessa perdida aqui", declarou Michael Hawley, desenvolvedor de software, antigo membro do corpo docente do MIT e amigo de Jobs.

http://g1.globo.com/Noticias/Tecnologia/0,,AA1419987-6174,00.html

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