11.6.07

Games: Nintendo muda de rumo, e se dá muito bem

Se existe um segredo para o sucesso esmagador do console de videogame Nintendo Wii, pode ser o seguinte: mesmo o mais criativo dos solitários pode se beneficiar caso tenha amigos.

A Nintendo é conhecida por produzir jogos eletrônicos de sucesso com personagens memoráveis como o Donkey Kong e os irmãos Mario, mas tinha a reputação de receber com frieza as abordagens dos produtores independentes de jogos, porque preferia criar o hardware e o software sozinha.
A empresa, sediada em Kyoto, Japão, certamente produziu designs inovadores como o GameCube ou o portátil Nintendo DS, equipado com dupla tela de toque, mas sempre viveu á sombra dos consoles da Sony, mais poderosos. O PlayStation 2 vendeu seis vezes mais que o GameCube, por exemplo. Agora, com o novo Wii, o contraste não poderia ser mais claro: o novo console da Nintendo e o Sony PlayStation 3, repleto de recursos tecnológicos avançados, chegaram ao mercado dos Estados Unidos em novembro, um ano depois que a Microsoft lançou o Xbox 360. Pelo final de abril, a Nintendo havia vendido 2,5 milhões de Wiis nos Estados Unidos, quase o dobro do total do PlayStation 3, e se aproximava dos 5,4 milhões de unidades de Xbox 360 vendidas desde que o aparelho chegou ao mercado, de acordo com o NPD Group, especializado em pesquisas de mercado.
O que mudou? A Nintendo, que sempre trabalhou sob um manto de segredo, decidiu sair da concha. Realizou um esforço coordenado para atrair outros produtores de videogames, como parte de uma mudança mais ampla de estratégia cujo objetivo é a liderança na mais recente geração de consoles de videogame.
A nova Nintendo surpreendeu os funcionários da Namco Bandai, uma produtora de videogames, durante uma reunião de rotina na sede da empresa, em Tóquio, 18 meses atrás. Os executivos da Nintendo, que sempre se mantiveram reservados, subitamente fizeram um apelo ao grupo, solicitando apoio.
Os representantes da Nintendo estavam na sede da Namco Bandai para demonstrar um protótipo do Wii, que ainda não estava no mercado. Eles entregaram aos funcionários da produtora de jogos os controladores dotados de sensores de movimentos e, enquanto os participantes testavam um jogo de pesca, a equipe da Nintendo os convidou a criar títulos para o novo console, mencionando argumentos sobre a oportunidade de lucro que o Wii representaria para ambas as companhias.
"Era uma atitude que eu ainda não havia visto, da parte deles", disse Shin Unozawa, vice-presidente de operações da Namco Bandai. "A Nintendo estava subitamente se abrindo aos produtores independentes".
Com essa nova abordagem, a esperança da Nintendo é evitar a decepção que sofreu com seu console anterior, o GameCube, que conquistou um distante terceiro posto no mercado norte-americano, atrás do PlayStation 2 e do Xbox, dizem analistas e profissionais do videogame. A mudança também representa uma promessa de abrir a cultura empresarial da Nintendo, famosa pelo sigilo ¿ainda que a abertura seja limitada. A Nintendo recusou repetidos pedidos de entrevistas com seus executivos.
A nova estratégia do grupo tem duas partes. Por um lado, envolve tornar o Wii mais barato e mais fácil de jogar do que os produtos concorrentes, a fim de atrair maior número de novos usuários, entre os quais pessoas que nunca compraram consoles. Com o Wii, a Nintendo evitou um dos erros que cometeu no caso do GameCube, o qual tentava competir em termos de tecnologia e desempenho com os produtos de rivais dotados de recursos muito maiores. Embora o Wii não ofereça velocidade ou recursos gráficos comparáveis aos do PlayStation 3 e do Xbox 360, o console se destaca devido a idéias novas como o controlador sem fio dotado de sensores de movimentos, que permitem que os jogadores saiam do sofá e pulem pela sala enquanto jogam.
O outro aspecto da nova estratégia da Nintendo é obter a colaboração de produtores de software como a Namco Bandai para produzir mais jogos destinados ao Wii do que era o caso com os modelos anteriores de console do grupo. A esperança dos executivos da empresa é que isso ajuda a eliminar uma das maiores vantagens de que a Sony desfrutava no passado ¿a disponibilidade muito maior de títulos para seus produtos. Quanto mais jogos um console tiver, afirmam as teorias do setor, mais os jogadores o comprarão.
Em março, Shigeru Miyamoto, o principal criador de jogos da Nintendo, chegou a apelar às demais produtoras de software que destacassem seu melhor pessoal para produzir jogos destinados ao Wii. Isso representa uma grande mudança com relação à estratégia anterior da Nintendo, que produzia sozinha a maior parte de seus jogos. Os produtores dizem que a Nintendo vem sendo mais generosa no que tange a oferecer licenças e acesso aos códigos necessários para a produção de jogos que funcionem em seus consoles.
A Nintendo, criada em 1889 como editora especializada em baralhos e jogos de cartas, começou a produzir videogames em 1975. O grupo está se abrindo também de outras maneiras, agora. Em março, a Nintendo anunciou que pela primeira vez havia licenciado os personagens de seu Super Mario Bros. a outra produtora, com a assinatura de um acordo com a Sega que permite que eles sejam usados em um jogo de esportes para a Olimpíada de 2008.
"A Nintendo está decidida a não repetir os erros do passado", disse Masashi Morita, analista de jogos na Okasan Securities, de Tóquio. "Com o Wii, adotou abordagem completamente nova".
No Japão, mercado base da Nintendo e da Sony, o sucesso do Wii foi ainda mais estrondoso que nos Estados Unidos. Até o final de maio, 2,49 milhões de Wiis foram vendidos, o que supera em 50% o total combinado do Xbox 360 e do PlayStation 3. Com a ajuda do Wii, o lucro da Nintendo cresceu em mais de 77% no ano fiscal encerrado em 31 de março, para US$ 1,47 bilhão.

Tradução: Paulo Eduardo Migliacci ME

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