31.3.08

Exército aprimora missões de combate aéreo noturno


Em um cenário de escuridão quase que total, helicópteros do Exército avançam sobre o terreno em uma missão de infiltração com vôos táticos a baixa altura, com o objetivo de surpreender o inimigo.

Estas operações de guerra vêm sendo viabilizadas no Brasil por meio do emprego dos OVN (Óculos de Visão Noturna), que permitem aos pilotos do Exército a visualização da topografia, construções e armamentos em condições adversas.

Iniciadas de forma isolada em 1997 por conta da participação brasileira na Momep (Missão de Observadores Militares no Equador e Peru), as operações com os OVN ganharam corpo no ano passado, por meio de treinamentos ministrados no Ciavex (Centro de Instrução de Aviação do Exército), uma das unidades que compõem o Cavex (Comando de Aviação do Exército) em Taubaté.

Considerada uma informação de caráter estratégico, o Exército não informa quantos pilotos e mecânicos de vôo estão atualmente habilitados ao emprego desta tecnologia. Para se ter uma idéia, somente entre abril e maio do ano passado 14 pilotos e 10 mecânicos de vôo se formaram na pilotagem com os OVN, sendo um piloto e um mecânico de vôo da Marinha do Brasil. Durante o aprendizado no Ciavex, os militares simulam vôos em uma maquete reproduzindo terrenos variados e com a Lua em diferentes posições.

Desgaste
Com o domínio das técnicas para o vôo, considerado de alto estresse para o piloto, novos treinamentos estão sendo realizados para capacitar os militares no emprego de armamento nas operações aéreas noturnas.

O equipamento utilizado pelo Exército permite intensificar em até 3,5 mil vezes a imagem com a luz residual captada pelas lentes. Para se ter uma idéia do desgaste provocado por esse tipo de treinamento, cada hora de vôo com o OVN equivale a 2,3 horas de um vôo comum. A cada 24 horas, o máximo permitido são três horas e meia de vôo com os óculos.

"Nos treinamentos, já conseguimos definir uma proporção entre os disparos traçantes e os tiros das aeronaves. Também buscamos treinar os pilotos contra o ofuscamento provocado pelo lançamento dos foguetes. Participamos de missões de infiltração e, aos poucos, estamos ingressando no apoio ao combate", disse o major André Vinícius Lopes Galvão, 37 anos, da seção de Operações do 2º Bavex (Batalhão de Aviação do Exército).

Segundo o major, a idéia é dar continuidade aos treinamentos em 2008 e ampliar o número de aeronaves equipadas com os sistemas de visão noturna. "Temos hoje oito helicópteros equipados na Amazônia, sendo quatro Cougars e quatro Black Hawks. Em Taubaté, temos quatro Cougars e até o final do ano estaremos com quatro Esquilos equipados."

Sobre os helicópteros que possuem o equipamento, o major disse que a escolha buscou priorizar os modelos utilizados pelo Exército em missões de transporte de tropas e ataque rápido.

O Cougar, por exemplo, tem capacidade para transportar 22 pessoas, além da tripulação. Ele é adequado às missões de transporte tático e apoio logístico, podendo ser equipado com duas metralhadoras laterais 762.

Essas metralhadoras também podem equipar o Black Hawk. Já o Esquilo é uma aeronave ágil, rápida e versátil, ideal para missões de ataque e em reconhecimentos, quando se quer chegar rapidamente até o inimigo, observá-lo e retornar sem ser visto.

Este helicóptero pode receber uma metralhadora calibre .50 e um lançador de foguetes 70 milímetros. Galvão, que é piloto do modelo Cougar e habilitado ao emprego dos OVN, disse que o vôo com esse tipo de equipamento representa uma grande vantagem estratégica e tecnológica para os militares.

"São equipamentos essenciais para privilegiar o combate noturno. Qualquer fonte de luz é utilizada, a exemplo das estrelas e da Lua. O OVN também capta a luz do infra-vermelho. Em um vôo como esse, por exemplo, o que dificulta é o nevoeiro e a chuva, que fraciona os raios de luz."

Estartégia
Especialistas em estratégia militar consideraram de importância fundamental a adequação do Exército brasileiro às técnicas de guerra noturna.

Para o especialista em estratégia militar Geraldo Cavagnari, do Núcleo de Estudos Estratégicos da Unicamp (Universidade de Campinas), a idéia é aumentar a capacidade de combate dos militares.

"Os exércitos americano e europeu já usam esses equipamentos faz tempo. O objetivo é melhorar a operacionalidade das tropas. Procura-se dotar uma força, em uma operação de guerra, dos melhores meios necessários, para o combatente aumentar sua capacidade."

Cavagnari afirmou que a técnica de vôo com o OVN exige preparo do piloto e uma grande coordenação por parte dos comandantes. "Fica mais difícil o controle do comando sobre as operações."

O pesquisador de assuntos militares da UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora), Expedito Carlos Stephani Bastos, disse que a técnica dos OVN começou a ser empregada em maior escala nas guerras do Golfo e do Afeganistão, em 1991.

"Para a tropa, é um fator tecnológico significativo. Você combate de noite ou não combate. Isso faz parte tanto na aviação quanto na parte terrestre."

Bastos também destacou a oportunidade representada pelo uso do equipamento em ações humanitárias. "Você tem um outro lado disso. Tanto serve para você se defender quanto para atuar em determinadas catástrofes."

http://tecnologia.terra.com.br/interna/0,,OI2718068-EI4795,00.html

Nenhum comentário: