30.3.08

Sistema de backup via internet deixa concorrência para trás


Se você alguma vez já perdeu arquivos de computador importantes, então já ouviu falar dos cinco estágios da perda: negação, raiva, barganha, depressão e se mudar para o território dos amish. Ainda assim, apenas uma pequena fração dos usuários de computador possuem sistemas de backup automáticos instalados.

Os obstáculos são custo, instalação e andar meio ocupado. Os impedimentos mentais e técnicos se tornam especialmente difíceis se você possui mais de um computador, como um laptop, uma máquina em casa e um PC no escritório. E o caso se torna quase sem esperança se as máquinas forem de tipos diferentes -- um Mac aqui, um PC ali --, porque você talvez não possa utilizar o mesmo software ou serviço de backup para todos eles.

Na semana passada, uma empresa chamada Sharpcast lançou o SugarSync, um novo serviço de backup automatizado e sincronização pela internet. Ele afirma ser capaz de resolver muitos desses problemas e outros mais. Mas, na verdade, eu não fiquei muito interessado a princípio.

Pra citar um motivo, os serviços de backup na internet estão por toda parte – e esse custa US$ 500 por ano. Isso para o armazenamento máximo, 250 GB. Os planos mais baratos estão disponíveis para menor quantidade de dados, como US$ 10 por mês para 30 GB – ainda caro, apesar de os planos custarem a metade do preço para o primeiro ano, se você se inscrever antes de 15 de abril.

Além disso, o nome SugarSync não me atrai muito. “Açúcar” não tem a ver com dentes cariados, criancinhas hiperativas e obesidade epidêmica? O que será que vão lançar depois disso, o Sync Grodura Trans? Mas deixa isso pra lá.


Impressionante

No fim das contas, o SugarSync é de fato impressionante. Ele começa como qualquer outro serviço de backup na internet: você instala um programa de backup em cada computador (chamado software de gerenciamento SugarSync) e escolhe as pastas que quer “backupear”.

A idéia, claramente, não é fazer o backup do seu disco rígido inteiro – o SugarSync não oferece espaço de armazenamento suficiente para isso. Em vez disso, lida apenas com seus documentos, músicas, fotos e assim por diante. Uma vez que você clica em OK, o programa automaticamente começa a fazer o upload dos conteúdos das pastas escolhidas para a web. A palavra operacional aqui é “começa”: o primeiro upload pode levar dias até se completar (dica: não espere para começar até o dia antes de seu disco rígido morrer).

Quando tudo finalmente termina, suas pastas e arquivos aparecem numa página da web pessoal e segura, que é dedicada aos seus arquivos. Não se trata de um simples cofre on-line para armazenamento de dados, mas os arquivos ficam “ao vivo” na web. Se você alguma vez tiver que usar um computador diferente -- outra de suas próprias máquinas, ou mesmo um computador emprestado -- você ainda pode ter acesso a seus arquivos, podendo baixá-los e carregá-los do repositório web.

Se o computador que você estiver usando tiver uma cópia do software de gerenciamento SugarSync, então uma característica especial o aguarda. Quando você editar o arquivo que abriu, as mudanças serão imediatamente enviadas para casa para os documentos originais, no computador que iniciou tudo. Em outras palavras, a web age como um grande refletor entre o Mac ou PC original e qualquer outro que você utilize.

Ou como a desenvolvedora Sharpcast afirma: "comece a editar um arquivo no PC do escritório e termine o trabalho no seu Mac, em casa. Não há necessidade de mandar arquivos por e-mail, conectar uma VPN ou utilizar drivers".

Mas espere, tem mais. O software de gerenciamento cria uma pasta especial chamada Magic Briefcase, em cada computador que você usa. Seus conteúdos são automaticamente mantidos em sincronia entre todos os computadores e a web. Em outras palavras, os conteúdos da pasta são sempre idênticos em cada um dos computadores que você possui. Qualquer mudança em qualquer documento de qualquer um dos computadores é refletida, em segundos, na Magic Briefcase, em cada computador, em todos os outros computadores (se um computador for desligado, as mudanças serão feitas na próxima vez que ele for ligado).

Mobilidade

Isso é muito útil quando você se desloca dento de um edifício ou pela cidade ou pelo país – porque você pode continuar tendo acesso a todos os seus arquivos importantes. Você sempre poderá acessá-los, de qualquer computador, ou mesmo de um computador emprestado, graças às cópias espelhadas na web.

Na verdade, você pode, se desejar, designar qualquer pasta pra ser uma pasta “mágica”. A essa altura, é claro, você estará entrando na terra das complicações e deixando para trás o imediatamente compreensível conceito da pasta mágica única.

Mas esse conceito de sincronizar qualquer pasta apresenta algumas possibilidades intrigantes. Por exemplo, significa que os computadores de sua casa e de seu escritório, ou o do andar de cima ou de baixo, ou máquinas portáteis ou fixas, ou todos os anteriores, podem conter as mesmas fotos em “minhas imagens”, a mesma música em “minha música”, os mesmos documentos em “meus documentos”, e assim por diante. É um truque bem bacana.

Então, se você estiver fora de casa e baixar algumas das fotos de sua câmera digital para o disco rígido do seu laptop, você as encontrará arquivadas com segurança quando acessar seu computador principal em casa.

Celular

O truque final do SugarSync, aquele que deixa a maioria dos serviços rivais para trás e comendo poeira, tem a ver com outro equipamento com o qual você provavelmente trabalha todos os dias: seu telefone celular.

Se você tem um telefone capaz de se conectar à internet, você pode visitar e ver precisamente a mesma lista de pastas da web que veria se estivesse um utilizando um computador. A lista parece especialmente agradável num iPhone, para o qual a Sharpcast criou um layout especial. Na maioria dos telefones, você não pode fazer muito com o que vê. Você não pode abrir uma planilha Excel e começar a editá-la, por exemplo (o fabricante diz estar trabalhando nisso). As fotos são a única coisa que você pode abrir no celular, mas isso não tem nada de extraordinário. O que você pode fazer é selecionar um documento e encaminhá-lo para alguém por e-mail.

Você deve se lembrar de algumas vezes em sua vida quando essa opção veio bem a calhar. Se você tem certos modelos de BlackBerry (Curve, Pearl ou o da séries 8800) ou um celular com Windows, você pode instalar uma minúscula versão do programa de gerenciamento direto no celular, transformando-o em mais um de seus computadores auto-sincronizados. Os documentos que você cria ou edita no aparelho são espelhados no site do seu SugarSync e nos seus computadores.

Qualquer foto que você tirar com o BlackBerry ou com a câmera do celular com Windows Mobile é automaticamente (e sem fio) “backupeada”. Agora já ficou claro que o SugarSync foi lançado com status de 1.0: a empresa tem seu trabalho feito sob medida para ele. Por exemplo, você só pode “backupear” pastas que estão localizadas no seu disco rígido principal – e não as secundárias, externas ou de drives interligados.

A versão para Mac ainda está na fase de testes e o serviço só funciona se você deixar o programa de gerenciamento rodando o tempo todo. Até no BlackBerry e nos celulares com Windows seu calendário e lista de endereços não são “backupeados”, muito menos sincronizados, o que parece ser uma estranha omissão (só para constar, a Sharpcast afirma que planeja fazer algo a respeito dessas questões nos próximos meses).

Problemas

Os maiores problemas: entender o que está acontecendo nessa rede de cópias espelhadas pode ser confuso. E, como foi mencionado acima, o preço de toda essa conveniência é razoavelmente alto, enquanto a quantidade de espaço para armazenamento de dados é relativamente pequena, considerando que ela deve funcionar para vários computadores.

Mesmo assim, não há nada como o backup automático/sincronização de pastas/compartilhamento de arquivos multiplataformas/backup para celular/serviço de acesso remoto. O software tem um design simples e elegante, o que é bom. E quando você muda um arquivo e o fecha, ver a modificação se disseminar, em segundos, de um computador para outro via web é uma diversão saudável, segura e meio maluca.
Quando você experimentar fazer isso, talvez passe por cinco estados emocionais diferentes: perplexidade, experimentação, compreensão repentina, deleite e se exibir para os seus amigos.

* David Pogue é colunista de tecnologia do “The New York Times”. Autor de diversos livros, ele também é responsável pela série Missing Manual, que ensina como usar programas de computador.


http://g1.globo.com/Noticias/Tecnologia/0,,MUL365841-6174,00.html

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