30.4.08

Blogueiros de Cuba mostram sua versão sobre ilha comunista

Um mês se passou desde que a população cubana ganhou o direito de comprar computadores, e o governo local ainda mantém um rígido controle sobre o acesso à internet. Mas isso não impede que milhares de pessoas explorem o ciberespaço e que os mais corajosos escrevam blogs sobre a vida no país comunista.

Yoani Sanchez escreve o Generacion Y, que soma mais de um milhão de cliques em um único mês – a maioria deles de estrangeiros, apesar de ela já ter conquistado muitos cubanos. Seus posts geram milhares de comentários – o mais recente deles registra mais de 5 mil deles.

Mas a vida dos blogueiros não é simples. Como o acesso à internet é restrito, quando quer postar textos Sanchez se veste como uma turista e entra em hotéis de Havana que oferecem acesso aos estrangeiros. O preço da conexão é de US$ 6 a hora – o valor e a possibilidade de ela ser pega não permitem que a blogueira fique muito tempo conectada. O salário médio de um cubano é de US$ 20 mensais.

A conexão que os blogueiros cubanos fazem com o resto do mundo via internet é irreversível, afirma Yoani, que neste mês venceu o prêmio espanhol Ortega y Gasset, para jornalismo digital. “Cada passo que damos nessa direção torna mais difícil o governo nos censurar”, afirmou a moradora da ilha.

Legalizado

Desde que assumiu o poder em fevereiro, Raúl Castro, irmão de Fidel Castro, eliminou proibições que impediam os cubanos de comprar eletrônicos, telefones celulares e de ficar hospedados em luxuosos hotéis para os turistas. Para muitos, a iniciativa apenas legalizou o que já era praticado no país. Em um post recente, por exemplo, Yoani afirmou que muitos cubanos já tinham computadores, celulares e tocadores de DVD comprados no mercado negro.

Apesar de as autoridades não terem realmente se empenhado para impedir a publicação do blog de Yoani, criado há um ano, aqueles que são a favor do governo a acusam de ser paga por grupos da oposição. A página é hospedada em um servidor alemão e muitas vezes o governo tenta bloqueá-la, mas o problema é resolvido em horas. Ela diz ter tantos leitores em cuba que muitas vezes é parada nas ruas por fãs.

Apenas estrangeiros e alguns funcionários públicos e acadêmicos são autorizados a acessar a internet, e ainda assim têm o uso da web monitorado. O resto da população pode utilizar uma rede que permite o envio e recebimento de e-mails internacionais. A navegação é bloqueada para outros sites e serviços. As filas são bastante longas para esse acesso restrito, disponível em clubes, agências de correio e em alguns poucos cibercafés.

Ainda assim, milhares de cubanos pagam cerca de US$ 40 mensais pelo acesso discado à internet, oferecido no mercado negro. Outra alternativa é o uso de senhas de cubanos autorizados, compradas de pessoas desonestas ou de piratas virtuais que roubam esses dados.

Blogosfera
Em um blog chamado Sin EVAsion, Eva Hernandez teve a ousadia de fazer uma piada com o “Granma”, jornal oficial do partido comunista, por usar o mesmo nome do barco no qual Castro e seus rebeldes retornaram a Cuba vindos do México para iniciar a rebelião armada de 1956. “Cuba é o único país do mundo onde seu principal jornal, o órgão oficial do partido comunista e voz oficial do governo, leva o ridículo nome que quer dizer avó”, escreveu.

Os administradores do Potro Salvaje dizem ter de lugar contra os limites impostos pelo governo. Um post recente comparou a internet sem censura a um raft virtual, pois nesse tipo de transporte marítimo os cubanos tentam fugir para os Estados Unidos.

Para promover sua imagem no exterior, o governo cubano também usa os blogs, mantendo dúzias de sites de apoio. “Raúl precisa de tempo”, diz um post do Kaosenlared.net, hospedado na Espanha. “Estamos confiantes, calmos e unidos a favor do rumo da nossa revolução”, escreveu Rogelio Sarforat, aparentemente de Cuba.

Reynaldo Escobar, marido de Yoani e ex-jornalista da mídia oficial, usa agora seu próprio blog para criticar o governo. Para ele, o governo paga diversas pessoas para colocar opiniões positivas na internet. Escobar diz não conhecer ninguém que pague para acessar a internet com o objetivo de falar bem do sistema. “Todos que mostram ser a favor são pagos, ou fazem isso porque alguém pediu”, acredita.

http://g1.globo.com/Noticias/Tecnologia/0,,MUL428960-6174,00.html

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