21.6.08

Neurocirurgiões americanos não usam celular perto da cabeça

O que os cirurgiões cerebrais sabem, e nós não sabemos, sobre a segurança com relação a telefones celulares?

Este mês, três neurocirurgiões renomados contaram ao entrevistador da CNN Larry King que eles não usam celulares próximos às orelhas. “Acredito que a forma mais segura é usar um fone de ouvido, para que a antena de microondas fique longe do cérebro”, disse Keith Black, cirurgião do Centro Médico Cedars-Sinai em Los Angeles.

Vini Khurana, professor associado de neurocirurgia da Universidade Nacional Australiana, que critica abertamente os celulares, disse: “Eu o uso no modo alto-falante. Não o seguro próximo ao ouvido”.

E o correspondente médico principal da CNN, Sanjay Gupta, neurocirurgião do Emory University Hospital, afirmou usar um fone de ouvido, como Black.

Os comentários do médico contribuíram para reacender um antigo debate sobre celulares e câncer.

A suposta relação entre eles foi amplamente descartada por muitos especialistas. A teoria de que celulares causam tumores cerebrais “desafia a credulidade”, disse Eugene Flamm, presidente de neurocirurgia do Centro Médico Montefiore em Nova York.

Segundo a Food and Drug Administration (FDA), três grandes estudos de epidemiologia desde 2000 não mostraram nenhum efeito prejudicial. A CTIA (Cellular Telecommunications & Internet Association) – a Wireless Association, o grupo líder no setor, disse em um comunicado que “a esmagadora maioria dos estudos publicados em jornais científicos ao redor do mundo demonstram que telefones sem fio não representam riscos à saúde”.

No entanto, o FDA observa que o período médio de utilização de telefones nos estudos citados é de três anos, então a pesquisa não responde a perguntas sobre exposições prolongadas. Críticos afirmam que muitos estudos são falhos por isso, e também porque eles não fazem distinção entre uso esporádico e intenso.

Celulares emitem radiação não-ionizante, ondas de energia que são muito fracas para quebrar ligações químicas ou provocar danos ao DNA conhecidos por causar câncer. Não existe mecanismo biológico conhecido para explicar como a radiação não-ionizante pode levar ao câncer.

Mas os pesquisadores que levantaram a questão dizem que só porque a ciência não pode explicar o mecanismo não significa que ele não exista. As preocupações se concentram no calor gerado por celulares e o fato de que as freqüências de rádio são absorvidas na maior parte pela cabeça e pescoço. Em estudos recentes que sugerem risco, os tumores tendem a ocorrer no mesmo lado da cabeça onde os pacientes tipicamente seguram os aparelhos celulares.

Como a maioria das pesquisas sobre o assunto, os estudos são observacionais, mostrando somente a associação entre celulares e câncer, não uma relação aleatória. O mais importante desses estudos se chama “Interphone”, um grande esforço de pesquisa em 13 países, incluindo Canadá, Israel e vários países europeus.

Algumas das pesquisas sugerem uma relação entre o celular e três tipos de tumores: glioma; câncer da parótida (glândula salivar próxima à orelha); e neuroma acústico (um tumor que ocorre essencialmente onde o ouvido encontra o cérebro). Todos esses tipos de câncer são raros, então mesmo que o uso de celulares aumente o risco, ele ainda é muito baixo.

No ano passado, o American Journal of Epidemiology publicou dados de Israel que encontraram um risco 58% maior para tumores da glândula parótida entre usuários freqüentes de aparelhos celulares. Também no ano passado, na Suécia, uma análise de 16 estudos no jornal Occupational and Environmental Medicine mostrou o dobro de risco de neuroma acústico e glioma após 10 anos de uso freqüente do celular.

“O que vemos são sugestões em estudos epidemiológicos que observaram pessoas usando telefones por 10 anos ou mais”, disse Louis Slesin, editora do Microwave News, publicação da indústria que monitora a pesquisa. “Existem descobertas muito desconcertantes que sugerem um problema, apesar de que é demasiadamente cedo para chegar a uma visão conclusiva”.

Alguns médicos dizem que a preocupação real não são usuários mais velhos de celulares, que começaram a usá-los depois de adultos, mas crianças que estão começando a usar celulares hoje e têm uma vida inteira de exposição ao aparelho pela frente.

“Mais e mais crianças estão usando celulares”, disse Paul J. Rosch, professor clínico de medicina e psiquiatria do New York Medical College. “Eles podem ser muito mais afetados. Os cérebros crescem rapidamente e o crânio está mais fino”.

Para pessoas preocupadas com qualquer risco possível, uma solução simples é usar fones de ouvido. Obviamente, essa opção não é sempre conveniente, e alguns críticos levantaram preocupações em relação a dispositivos sem fio como Bluetooth, que basicamente colocam um transmissor dentro da orelha.

O medo é que, mesmo o risco individual do uso de celulares sendo baixo, com três bilhões de usuários ao redor do mundo, até um risco minúsculo poderia representar uma enorme preocupação com a saúde pública.

“Não podemos dizer com nenhuma certeza se os celulares são seguros ou não”, disse Black na CNN. “Minha preocupação é que, com o uso difundido de celulares, a pior situação poderia ser um estudo definitivo daqui a 10 anos que comprovasse a existência dessa ligação”.

http://g1.globo.com/Noticias/Ciencia/0,,MUL608321-5603,00.html

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