Um funeral em memória de uma "amiga querida" foi conduzido recentemente num dos escritórios da editora Hachette. Ninguém havia de fato morrido, exceto uma certa tecnologia, a fita cassete. Embora a fita cassete tenha sido substituída já há algum tempo na indústria musical, ela ainda tinha utilidade para as editoras de audiolivros. Muitas pessoas preferem as fitas, por ser mais fácil tocá-las do ponto exato em que pararam, ou rebobiná-las quando não entendem uma frase. Para a Hachette, no entanto, a demanda diminuiu tanto que o lançamento de seu último livro em cassete foi em junho: Sail, um romance de James Patterson e Howard Roughan.
O funeral na Hachette ¿ uma festa de escritório no departamento de audiolivros ¿ reflete o fim generalizado das fitas cassetes, que substituíram o vinil e foram posteriormente ofuscadas pelo CD. (O CD também está em rápido declínio, graças às lojas virtuais de música, mas essa já é outra história.)
As fitas cassetes perduraram por algum tempo, em parte devido à sua facilidade em gravar conversas ou coletâneas de músicas favoritas para presentear, por exemplo, uma namorada. Mas as vendas de toca-fitas, que tiveram seu pico em 1994, com 18 milhões de unidades vendidas, caíram vertiginosamente para 480 mil em 2007, segundo a Associação de Consumidores de Eletrônicos. O grupo prevê que as vendas em 2012 cairão para cerca de 86 mil.
"Aposto que seria difícil encontrar uma loja nos EUA que não tivesse pelo menos algumas fitas cassetes à venda," disse Shawn DuBravac, economista da Associação de Consumidores de Eletrônicos. Mesmo que os produtores musicais e as editoras de audiolivros deixassem de usar as fitas por completo, as pessoas ainda comprariam toca-fitas devido à "imensa biblioteca em cassete que os consumidores guardam como legado," ele disse.
Enquanto as pessoas guardarem em seus sótãos aquelas fitas gravadas para namorados do colégio, DuBravac afirmou, a vontade de ouvi-las persistirá. "As pessoas têm uma quantidade enorme de cassetes guardados e bate aquela curiosidade imensa quando encontram uma caixa de fitas e dizem, 'Nossa, o que será que há nelas'?"
As fitas ganharam popularidade em 1979, ano em que um novo toca-fitas - o Sony Walkman - foi introduzido, possibilitando que as pessoas ouvissem Donna Summer e My Sharona da banda Knack enquanto faziam cooper. (Lembra do cooper?) A importância do antigo Walkman - que era um pouco menor e mais leve que um tijolo - é cômica para os padrões dos pequeninos iPods de hoje em dia, mas durante o governo do presidente Carter (1977-1981), eles eram bacanas.
Atualmente, ouvir músicas em fitas cassetes é um passatempo em extinção. Nenhum dos álbuns do Top 10 da Billboard na semana passada tem versões em fita cassete, embora metade deles tenha sido lançada em vinil, que agora ressurge. No ano passado, apenas 400 mil fitas de música foram vendidas, representando um décimo de 1% de todas as vendas virtuais e físicas de música, segundo a Associação da Indústria Fonográfica dos EUA. Em 1997, as vendas foram de 173 milhões, quando as fitas cassetes já perdiam terreno para os CDs. (O iPod surgiu apenas em 2001.)
"Não acredito que haverá um retorno dos cassetes, como aconteceu com o mercado de LPs," DuBravac disse. Enquanto os discos de vinil foram sempre considerados objetos especiais para os fanáticos, a fita cassete de plástico tem menos sex appeal.
Esse também foi o caso da fita de oito faixas, muito popular no final dos anos 1960 e 1970. Segundo DuBravac, o formato se extinguiu rapidamente com o advento das fitas cassetes, já que poucos usavam as fitas de oito faixas para a gravação de material pessoal ou compilações musicais.
Embora as chances de encontrar um toca-fitas em uma república de estudantes sejam pequenas, eles continuam à venda: na Amazon, a Sony oferece 23 tipos de toca-fitas, de Walkmans a aparelhos com caixas de som.
Ouvir música no toca-fitas do carro também é coisa do passado. Apenas 4% dos veículos modelo 2007 vendidos nos Estados Unidos vinham com toca-fitas de fábrica, segundo o Anuário Automotivo da Ward. Até 2005, 23% dos carros ainda tinham toca-fitas.
Considerando que a idade média dos carros nos Estados Unidos é de nove anos, disse Alan K. Binder, editor do Anuário da Ward, é provável que a maioria dos 200 milhões de carros e pequenos caminhões nas estradas americanas ainda tenha um toca-fitas (embora não seja possível determinar quantos deles têm dentro uma fita de Bob Seger que não é tocada há 11 anos).
O chiado costumeiro das fitas cassetes - bem como a tendência de derreterem no verão ou racharem no inverno - é um balde de água fria para os audiófilos. Mas para os audiolivros, a fita ainda é vista como algo elegante: você pode ouvi-las no carro, trazê-las para casa e colocá-las para tocar exatamente no ponto em que haviam parado, uma vantagem analógica que está além da capacidade de um CD.
As fitas cassetes representaram 7% dos US$ 923 milhões em vendas da indústria de audiolivros em 2006, último ano que estatísticas desse tipo foram levantadas, segundo a Associação de Editoras de Audiolivros. Apesar de muitas editoras, como a Random House e a Macmillan, terem deixado de lançar livros em cassete nos últimos anos, as fitas ainda sobrevivem.
Na Blackstone Audio, que produz versões em cassete para cerca de 340 de seus títulos anuais, Josh Stanton, vice-presidente executivo da empresa, disse que ainda há demanda por parte de bibliotecas e caminhoneiros que compram as fitas nas paradas de suas viagens. Mas Stanton não consegue prever se a empresa continuará produzindo cassetes após 2009.
A Recorded Books, cujos autores incluem Philip Roth e Jodi Picoult, ainda lança fitas cassetes para todos os seus títulos, cerca de 700 por ano. Lojas como Borders e Barnes & Noble deixaram de encomendar fitas, mas as bibliotecas ainda não as abandonaram, disse Brian Downing, distribuidor da editora.
Nos sites da Barnes & Noble e Borders, no entanto, as fitas continuam à venda, embora as editoras afirmem que as lojas têm mostrado pouco interesse em encomendar mais fitas no futuro.
Vai chegar o dia em que as fitas cassetes terão o mesmo fim das fitas de oito faixas, Downing reconheceu, e sua empresa passará a lançar livros somente em outros formatos. "Acho que as fitas sairão de cena em três anos," ele disse.
Tradução: Amy Traduções
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