19.8.08

Games estimulam busca pelo conhecimento, diz estudo



Quem assiste de fora ainda deve achar que no comando de controles, mouses e teclados estão “viciados em joguinhos”. Mas quem deixa o preconceito de lado, ou quem transforma a observação em estudo científico, percebe que os “fanáticos” são, na verdade, pessoas comuns que têm em mãos uma poderosa ferramenta de aprendizado.

Estudos apresentados neste domingo durante a Convenção Anual da Sociedade Americana de Psicologia, em Boston (Massachusetts, EUA), indicam que os games podem incentivar o raciocínio científico, a troca de conhecimentos e até aprimorar a habilidade de médicos em suas cirurgias.

O RPG on-line “World of warcraft”, que tem cerca de 9 milhões de assinantes no mundo, foi o alvo do estudo “Informal Scientific Reasoning in Online Game Forums". Pesquisadores colheram aleatoriamente no fórum de discussão oficial cerca de 2 mil mensagens sobre diversos assuntos do jogo, registradas em novembro de 2006.

O objetivo era analisar a comunicação entre os jogadores e observar que tipo de conversas aconteciam ali. Conclusão: os jogadores se valem do “raciocínio científico” para obter as respostas que procuram, melhorar a preparação de seus personagens e evoluir mais rápido no mundo virtual de “WoW”. No jogo, cada pessoa cria seu próprio personagem, com diferentes habilidades e poderes, e escolhe se fará parte da Aliança ou da Horda (espécie de conflito entre o bem e o mal).


Segundo o estudo, os jogadores utilizam matemática, modelos de lógica, testes e hipóteses para solucionar os desafios do game. Por se tratar de um MMORPG (jogo on-line para diversos jogadores simultâneos), “World of warcraft” funciona melhor quando os jogadores trabalham em equipe – seja para cruzar um território inimigo ou derrotar um “chefe” poderoso. Eles podem se organizar em clãs (equipes) e estabelecer verdadeiros laços de amizade enquanto massacram inimigos, coletam moedas de ouro e colecionam horas de aventura.

“Esses fóruns ilustram como as práticas intelectuais para melhorar seu papel em um jogo são espelhadas no raciocínio científico da vida real”, diz Sean C. Duncan, da Universidade de Wisconsin, que liderou o estudo. “Os jogadores estão discutindo abertamente suas estratégias e pensando, criando um ambiente em que a razão científica informal vai sendo desenvolvida enquanto você joga”.

Habilidade nas mãos

Um segundo estudo reuniu 303 cirurgiões para avaliar suas habilidades manuais em tarefas exigidas durante operações médicas. Nesse teste, médicos que jogaram games que trabalham com noções espaciais e destreza manual foram mais rápidos nas tarefas propostas do que os profissionais que não tiveram contato com games.

Douglas Gentile, psicólogo da Universidade Estadual de Iowa, lembra que a influência dos games deve ser analisada sob diversos aspectos. “Os efeitos dos games podem se manifestar de diversas maneiras, desde a quantidade que você joga, o conteúdo em questão, os elementos que exigem sua atenção na tela e os mecanismos de comando”, diz. “Isso significa que os jogos não são ‘bons’ ou ‘maus’, mas são ferramentas educacionais poderosas e estimulam muitos efeitos que não esperávamos que pudessem estimular”.


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