4.11.08

Sites europeus vendem drogas pela Internet

As compras pela Internet chegaram a tal ponto na Europa que é possível até encomendar drogas com apenas alguns cliques em sites especializados. Os endereços são diversos, mas alguns impressionam pelo profissionalismo da transação comercial, como um franco-britânico que promete "satisfação garantida ou o seu dinheiro de volta".

E toda a atividade acontece sob os olhos da lei. As regras dos sites são simples: enquanto o site franco-britânico só comercializa ervas não proibidas no Reino Unido e na França, um outro, holandês, põe à venda todo o tipo de droga permitida nos Países Baixos − e essa lista não é curta.

O resultado é que, na prática, os comerciantes não estão infringindo a lei, embora o holandês envie suas mercadorias para qualquer lugar do mundo − "a responsabilidade em transgredir ou não a lei do seu país é sua", avisa o site − e o franco-britânico ofereça ervas cujos efeitos no corpo humano são semelhantes ou mais intensos do que os da maconha, asseguram usuários.

A compra dos entorpecentes é realizada da mesma forma que os outros milhares de produtos vendidos na Internet. O internauta é convidado a preencher um cadastro, e a partir de então terá o seu login para futuras compras.

"Eu comecei a fumar há 20 anos, fumo todos os dias e não consigo ficar sem usar maconha. O problema é que, com a idade avançando, fica cada vez mais difícil de consegui-la, então esses sites são uma solução muito prática", explica um usuário, que não quis se identificar - assim como todos os demais que deram depoimentos à reportagem. Conforme este comprador, a maioria das pessoas que visitam este tipo de endereço na Internet está em busca de discrição.

Para os clientes que visitam os endereços pela primeira vez, os sites oferecem promoções para a experimentação do produto. A partir de então, no holandês as encomendas custarão pelo menos 25 euros (equivalente a cerca de R$ 67), além das taxas de entrega, feita pelo correio − sim, a droga chega na porta da casa do cliente pelas mãos de um carteiro. Um alerta indica que não é de responsabilidade do site se a alfândega do país confiscar a encomenda.

No endereço holandês, uma das primeiras lojas virtuais do país, criada por um casal em 1999, o comprador encontra livremente uma vasta diversidade de maconha e cogumelos alucinógenos, além de também poder optar pelas sementes destas drogas e depois produzi-las em casa.

Na capa do site, uma enquete pergunta ao visitante qual das sete variações da erva é a melhor para uma noite tranqüila em casa, e ainda apresenta relatos de primeira experiência com este ou aquele tipo. A página também dispõe de traduções em nada menos do que seis línguas, reflexo da diversificada clientela ao redor do globo.

Nos textos publicados, o internauta encontra até mesmo dicas de plantação das sementes vendidas, técnicas de manutenção da planta e de preparo das folhas para o consumo. Conforme dados da Missão Interministerial da Luta contra as Drogas e a Toxicomania, somente na França são produzidas 50 toneladas de maconha ao ano através de pequenas plantações.

Questionado se não temia ser pego pela polícia, um comprador de sementes de maconha disse que a lei permite comprá-las, embora não autorize a plantação e o consumo. "Na realidade, temos o direito legal de comprar os grãos mas não de plantá-los a fim de produzir a droga. Então, evidentemente, uso só para a decoração da sala", debocha o cliente do site holandês.

Já o concorrente Biosmoke (fumo ecológico, em tradução livre oferece "apenas" uma ampla variedade de fumo produzido com "ervas exóticas, muitas de origem latino-americana".

Os produtos, chamados por nomes descontraídos como "Gorilla" (12 euros - R$ 33 - por 2gr de produto) ou "Spice" (de 13 a 25 euros - R$ 35 a R$ 67 - por 3gr), são o resultado de uma mistura de várias ervas, todas descritas na página de cada um, onde também se encontram especificados os países onde a sua comercialização é proibida por lei. A Gorilla, por exemplo, não pode ser enviada à Suíça, Dinamarca, Espanha, Finlândia, Itália, Austrália e aos Estados Unidos, o país mais fechado às mercadorias disponíveis neste site.

"Os efeitos são comprovados. Confesso que no início eu estava um pouco cético, porque tudo parecia perfeito demais, mas na metade do primeiro cigarro de Spice Gold eu logo vi que não se tratava de uma enganação", conta outro cliente.

Na descrição dos produtos, a promessa de sensações relaxantes ou estimulantes confirma que não se trata de fumos convencionais. Alguns deles contêm salvia divinorum, que provocaria efeitos alucinógenos semelhantes aos do LSD. "O efeito é garantido mesmo para um fumante habituado. Ao final do segundo cigarro, eu fico tão chapado como se fosse maconha, e o efeito dura mais tempo. No entanto, as sensações de ressaca no dia seguinte são mais difíceis", atesta um usuário.

Procurados, os responsáveis pelos sites não concordaram em dar entrevistas. Os endereços parecem estar sendo cada vez mais difundidos na Europa. Um usuário francês contou seu testemunho em Paris: "Eu fumei em um café, junto com a minha mãe. É interessante poder 'enrolar' em um café fora da Holanda, onde tudo é liberado. O garçom logo viu que se tratava de um Biosmoke, mas não disse nada. Aparentemente, a informação se espalha rápido", disse.

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