5.8.08

'Quero ser um incubador de idéias', diz criador da tela digital


Na origem de tudo, um simples copo d’água. Quando percebeu a imagem distorcida de seus dedos enquanto segurava o copo, o pesquisador americano Jeffrey Han, 32 anos, teve um “estalo”. Foi aí que ele começou a esboçar o que se tornaria, meses depois, a primeira grande revolução das interfaces de computador desde o surgimento do mouse, invento que o garantiria na lista das 100 pessoas mais influentes do mundo segundo a revista Time.

Não é só pela descrição do momento “eureka” que se percebe que Han, filho de um casal de sul-coreanos que imigrou para os EUA nos anos 70, se encaixa com perfeição no estereótipo do gênio inventor, indivíduos que, como o fictício Professor Pardal, transitam entre o excêntrico e o brilhante, e sem os quais a evolução científica perderia parte de seu encanto.

Han pega leve no quesito excentricidade. Mas, por exemplo, só usa camisas escuras, de cor sólida, geralmente cinza chumbo. Sua atenção é seletiva: ao mesmo tempo em que consegue contar o número de igrejas e templos em um percurso de 10 km de táxi no Rio de Janeiro (“o Brasil é um país muito religioso, vocês têm até um Jesus gigante em cima de uma montanha”), ele admite que, de certa forma, tem dificuldade para se concentrar em uma mesma atividade.

“Quando eu tinha cinco anos, comecei a desmontar todos os aparelhos eletrônicos que via em casa. E eu quase nunca tinha paciência de montá-los novamente”, conta, em entrevista ao G1. O traço, de certa forma, se mantém até hoje: Han acumula diversas linhas de pesquisa na New York University.

O apoio inicial, afirma, veio dos pais, que administravam um mercadinho no Queens, em Nova York. Se seu hobby já era brincar com um ferro de solda, a mãe fez questão de fazer com que o filho também tivesse uma boa base matemática. Antes mesmo do jardim da infância, o menino havia decorado tabuadas e tabelas de raiz quadrada. O pai, mesmo com a renda limitada, economizou o suficiente para matriculá-lo em uma escola particular de elite, a Dalton School, em Manhattan.

Depois, ele cursou engenharia elétrica e ciências da computação na Cornell University, em Ithaca, interior de Nova York. Han, no entanto, não se formou. Em 1995, ele abandonou os estudos no último ano para se dedicar a um invento que acabou fadado ao esquecimento por ter surgido cedo demais: o CU-SeeMe, sistema de chat em vídeo pela internet. A banda larga ainda era uma realidade distante para a maioria das pessoas, e a idéia de ter uma webcam em casa parecia algo futurista demais.

Han acabou voltando para o ambiente acadêmico, desta vez na New York University. Foi lá que ele criou a tela multitoque, projeto que acabou virando uma empresa própria, a Perceptive Pixel, fundada por Han.

O equipamento já jogou seu inventor para o estrelato - e praticamente garantiu seu sucesso financeiro. Por enquanto, seus esforços estão mais concentrados na tela multitoque, mas o lado inquieto do “Professor Pardal” faz com que Han também trabalhe em outras áreas de pesquisa. “Eu quero ser um incubador de idéias. Quando o projeto começa a chegar em um estado mais maduro, gostaria de poder passar para outro invento”, conta Han.

Um de seus projetos é um equipamento para transformar objetos do mundo real em reproduções tridimensionais digitais. No outro, mais um “eldorado” das interfaces: um sistema que permite utilizar os olhos para controlar um computador.

Seu preferido é o desenvolvimento de um “robô-câmera-helicóptero” em miniatura totalmente automático, capaz de voar com precisão em uma caverna, por exemplo, sem bater nas paredes.


Este último é de interesse de órgãos de defesa do governo americano, que já são seus maiores - e primeiros - clientes na Perceptive Pixel, para ser utilizado na caça de terroristas da al-Qaeda no Afeganistão. Se a empreitada engrenar, pode ser o próximo invento a merecer dedicação exclusiva de Han.

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