Quando o tema são novas tecnologias para melhorar a performance das redes móveis, desenvolver sistemas operacionais ou tornar ainda mais finas as telas LCD, as empresas e universidades brasileiras raramente ficam ao lado de institutos asiáticos ou corporações americanas.
No universo da tecnologia, porém, há um segmento onde o trabalho de pesquisadores brasileiros está se consolidando como vanguarda no mundo, a produção de combustíveis limpos.
Os métodos de processamento de produtos agrícolas como cana, palma, amendoim, babaçu ou dendê desenvolvidos pela Embrapa apresentam maior eficiência que tecnologias criadas nos Estados Unidos e Europa.
Contribui para esta diferença a favor do Brasil, as características climáticas e geológicas do país, que pode produzir culturas com maior potencial energético, como babaçu e mamona, ao invés de apenas soja ou beterraba, como fazem Estados Unidos ou Alemanha, por exemplo.
Esta semana, o Ministério da Agricultura divulgou o balanço das exportações de bicombustíveis ao longo de 2008. No período, o Brasil vendeu 5,16 bilhões de litros de combustível renovável, com destaque para o etanol. O número é recorde e supera com larga margem o volume de gasolina que a Petrobras exportou ano passado, diz o Ministério. O maior importador em 2008 foram os Estados Unidos, que sozinhos compraram 2,2 bilhões de litros de biocombustível brasileiro.
A produção nacional de biocombustível contribui ainda para diminuir a necessidade brasileira de importar diesel petróleo. Embora seja autosuficiente em petróleo, as características do óleo encontrados no Brasil não permitem uma produção de diesel suficiente.
A mistura de diesel de petróleo com percentuais de biodiesel, no entanto, diminui a necessidade de importações. Atualmente, ao menos 2% do combustível diesel vendido nas bombas é composto por óleo renovável. Além do benefício econômico, a mistura é altamente favorável do ponto de vista ambiental já que o diesel de petróleo está entre os combustíveis mais poluentes. O óleo libera, entre outras toxinas, partículas de enxofre que respiradas pela população tem potencial de causar doenças respiratórias e aumentar a incidência de câncer entre pessoas contaminadas pelo excesso de enxofre.
Segundo os números do portal Biodiesel.org, o país possui atualmente 56 usinas de combustível feito à base de material orgânico. Uma pequena usina do tipo exige investimentos entre R$ 4 e R$ 12 milhões. Apesar de toda expectativa criada em 2008 sobre pesados investimentos nesse setor, no entanto, as perspectivas ainda não se realizaram.
O empresário José Luiz Crespo, que possui uma fábrica de tintas e solventes na região de Botucatu, interior de São Paulo, diz que enfrenta dificuldades para obter financiamento para transformar suas instalações numa usina de biodiesel.
“Durante muitos anos produzi tintas e cera para depilação. Ano passado, decidi mudar o foco da minha atividade para a produção de biodiesel e procuro parceiros investidores. Fiz contato com algumas empresas da Espanha, mas até agora não consegui nada. Desde o estouro da crise internacional ficou difícil obter investimentos”, conta Crespo.
Além da desaceleração no crescimento da economia global, joga contra o Brasil a perspectiva de um governo mais protecionista nos Estados Unidos, maior importador mundial de combustíveis.
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