Em 2008 o Brasil pode não ter grandes candidatos ao posto de melhor jogador escolhido pela Fifa, mas uma revelação dos gramados virtuais tem chances de dar ao país mais um título importante: o de "melhor jogador de futebol nos games".
André Buffo, de 16 anos, conhecido no ranking on-line de PlayStation 3 como 'Scorpion', é o único representante do Brasil na final mundial do Fifa Interactive World Cup (FIWC), campeonato do jogo "Fifa 08" organizado pela entidade controladora do futebol.
Neste sábado (24), em Berlim (Alemanha), André enfrenta outros 31 jogadores na tentativa de ganhar o prêmio de US$ 20 mil e o título de "melhor jogador virtual" (clique aqui para ver os finalistas). Se vencer, recebe as honras na mesma cerimônia da Fifa que elege, em dezembro, na Suíça, os melhores jogadores do mundo no futebol "de verdade".
"Scorpion" é novo, mas essa não é sua primeira competição internacional. Ele já disputou a etapa mundial da World Cyber Games (WCG) na Itália e o Fifa Interactive World Cup na Holanda, em 2006, ano em que começou a participar de torneios. Na primeira participação no torneio da Fifa, André ficou entre os 16 melhores, entre 128 competidores.
Ele acredita que está mais bem preparado este ano, mesmo com as diferenças entre versões de "Fifa" entre uma plataforma e outra, a cada ano que passa. A final do FIWC 2008 será disputada no console PlayStation 3, da Sony. Segundo André, essa versão privilegia o ataque, ao contrário da versão de computador, mais defensiva.
Buffo teve um período de treinos complicado. Começou a jogar só em fevereiro, somando pontos em um ranking que já existia desde novembro de 2007. Um mês depois, era líder na América do Sul. Foi acusado de "trapacear", teve seus pontos congelados e fez um novo cadastro, começando do zero. Um mês depois, era novamente o líder, com 173 vitórias em 206 partidas, e garantia vaga na final mundial.
De Laranjal Paulista (SP), cidade a cerca de 170 km da Grande São Paulo, o fã de Cristiano Ronaldo conversou com o G1 por telefone antes de embarcar para a Alemanha. André, que está no terceiro colegial e chegou a ficar invicto por cerca de 50 jogos, diz que as partidas na Alemanha devem ser definidas pelo "fator psicológico".
G1 - Quando você começou a disputar as eliminatórias on-line de "Fifa 08"?
André 'Scorpion' Buffo - Comecei a disputar dois meses antes do fim. Poderia ter começado em novembro, mas peguei o videogame [PlayStation 3] só em janeiro, e o jogo ["Fifa 08"] só em fevereiro. Joguei então até março e cheguei à liderança, mas retiraram minha conta, dizendo que eu tinha feito coisa errada.
G1 - Você foi acusado de quê?
André - Fui acusado de ter ganhado partidas de graça. Disseram que as pessoas tinham entregado os jogos, dando vitórias de graça para mim. Aí eu criei uma nova conta, faltando um mês, e consegui chegar novamente à liderança.
G1 - Como foi esse período de recuperação de pontos?
André - Eu jogava o dia todo. Não dá para fazer muito jogo porque é difícil encontrar adversários, e tem muito jogador que sai da partida quando está perdendo. Então eu fazia uma média de 10 jogos por dia. No total eu fiz 206 jogos [173 vitórias].
G1 - Você procurava jogar com estrangeiros?
André - Sim, e tentava jogar sempre com os melhores. Para ganhar mais pontos no ranking e também para já treinar para a etapa brasileira.
G1 - Qual a diferença entre os brasileiros e os estrangeiros?
André - Esse ano o Brasil tinha poucos jogadores realmente treinando. Os que eu sabia que estavam treinando foram bem.
G1 - Durante a etapa de São Paulo qual era sua situação no ranking on-line?
André - Eu estava em primeiro, já tinha 90% de chances de estar classificado on-line. Eu não tinha obrigação de vencer na off-line porque eu praticamente já tinha cumprido o meu papel. A etapa de São Paulo aconteceu dia 29 de março, e a on-line acabava no dia seguinte, sendo que eu tinha 500 pontos de vantagem sobre o segundo colocado.
G1 - O que "Fifa 08" tem de diferente no PlayStation 3?
André - É um jogo bem ofensivo. Normalmente saem mais de três gols por partida. Você tem de se preocupar muito em se defender para poder sair no contra ataque.
G1 - O que você espera do mundial na Alemanha? Quais são os principais rivais?
André - No mundial os jogos são bem difíceis. O que vai decidir é o fator psicológico, já que os jogadores estão num nível bem parecido. Os principais são o Ruben [mexicano que ganhou vaga no Brasil], o inglês Chris Bullard, campeão em 2005 e o holandês Andries Smit [vencedor da última edição]. No ranking on-line tem também o alemão Marko Krivokapic, que conseguiu 95% de aproveitamento nas eliminatórias.
G1 - Como estão sendo os treinos?
André - Estou treinando praticamente o dia inteiro. Depois de ganhar a vaga eu diminuí um pouco o ritmo porque estava com muitas provas na escola. Pretendo continuar estudando, mesmo tendo me profissionalizado.
G1 - O que mudou ao ganhar patrocínio da equipe MiBR?
André - Muita coisa. As pessoas me vêem com mais seriedade, mais respeito, até. Lá fora alguns jogadores vêm falar comigo, dizem que já ouviram a meu respeito.
G1 - Por que a maioria dos jogadores, como você, joga com o Barcelona?
André - É pela qualidade dos jogadores. O Barcelona tem os mais fortes, mais rápidos e habilidosos. Ronaldinho, Henry, Etoo e Messi fazem a diferença no jogo.